Bobagem

Mais uns 65 anos e estaremos todos mortos. E qual terá sido a validade das infindáveis horas de desesperos e tristezas?

À beira dos 100 anos, hei de revirar meus olhos ao olhar para trás e não poderei deixar de pensar: “Quanta bobagem!”. Mas quem poderá dizer que aquilo que pensamos durante a calmaria é mais justo do que aquilo que foi pensado durante a tormenta? É mais fácil, sem dúvida, mas seria mesmo mais assertivo?

A premissa da justiça é que se encontre a verdade sobre os fatos. E qual seria a nossa opinião mais verdadeira sobre as coisas que vivemos? Seria aquela movida por paixões e que se impõe sobre nossa a mente como única opção nos momentos de horror? Ou seria aquela que escolhemos quando já estamos libertos dos afetos do passado?

Tudo de significativo que vivemos se acumula em nossos corpos. Em tempos de paz, podemos revisitar nossas histórias e escolher novas opiniões sobre elas, mas qual será a verdade revelada em nossa matéria? O que estarei contando ao mundo, no futuro, com o novo formato da minha boca, com a curvatura da minha coluna, com a posição dos meus ombros, com a parede do meu estômago?

Eu ando desconfiando que o corpo diz sempre a verdade e, se eu pudesse falar agora com a minha versão de 100 anos, eu diria para ela: “Bobagem mesmo é um dia chegar a pensar que foi tudo bobagem.”

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